Não adianta pensarmos que o Chega não crescerá, porque André Ventura está com uma força superior ao que esperávamos. Não tenho, por isso, a menor dúvida de que um dos factos que dominará a noite do próximo dia 10 de março será o resultado “histórico”, em números percentuais e em deputados eleitos pelo Chega.

Desde a enfática afirmação de António Costa, “com o PS não passará”, que sentimos o desconfortável crescimento do Chega. Manuel Alegre voltou a enfatizar a mensagem, mas a realidade é, infelizmente, bem diferente. A verdade é que o Chega vai crescendo de forma muito preocupante para a democracia e entrará no grupo dos grandes partidos.

Ao contrário do que nos tinham habituado, o congresso do partido deixou-nos essa certeza quando vemos mais organização, mais disciplina e melhor preparação para as eleições. Foi milimetricamente montado à medida exclusiva de André Ventura e com todos os traços análogos aos partidos radicais e populistas espalhados pela Europa. A posição de encher sozinho o palco com uma assistência sempre pronta a aplaudir o líder a cada palavra – numa prática muito típica dos partidos de extrema-direita – e os discursos sempre populistas com sinais de racismo xenófobo demonstraram ao que o Chega vem.

Tudo montado para retórica inflamada, mas sem qualquer correspondência com a realidade e sem saber o que é possível do universo das propostas profundamente demagógicas. As afirmações produzidas são todas no sentido de dizerem aquilo que o povo quer ouvir e os ataques ao sistema e às instituições foram constantes.

Todos os discursos, em especial as mensagens do líder do Chega, continham ideias de extrema-direita, contra a emigração, com evidentes sinais xenófobos e com formato e traços ideológicos sem contornos estáveis, mas com a flexibilidade para se adaptarem às conjunturas e chamamento de discursos populistas.

André Ventura mobiliza e tem boa palavra. E demonstra que estão em crescimento os cidadãos cansados deste sistema. O seu voto de protesto talvez seja a última tentativa de acreditarem, em especial os jovens, que querem protestar porque não encontram alternativa nem no PS nem no PSD.

Por isso sente-se que André Ventura tem o objetivo de seduzir os jovens que dão sinais de aceitarem perigosamente, para a democracia, a contestação pela contestação e vão aderindo progressivamente contra o sistema e contra as instituições.

Não adianta “tapar o sol com a peneira”. O discurso do Chega está a atingir com força o caminho do voto de protesto, que é sempre muito perigoso. Para os jovens o que interessa é contestar e por isso encontram no Chega a plataforma de contestação e protesto que procuram. O que, associado ao crescimento perigoso das redes sociais, coloca grandes desafios à democracia.

Ficou claro que este partido é populista, com sinais fascizantes, ao contrário da maioria do seu eleitorado. As propostas ou não existem ou são demagógicas. Falam em acabar com o Estado Social, propor aumentos para tudo e todos, com propostas fiscais muito frágeis e com uma confrangedora falta de consistência estratégica, porque o eleitorado, desmotivado com os resultados concretos dos governos e os partidos do sistema, encontra aí alguma racionalidade, aderindo à capacidade retórica muito enfática que chama à atenção e motiva interesse junto dos que se têm desinteressado.

O povo está descrente com a incapacidade dos partidos tradicionais e, por isso, o discurso de mudar, contra a corrupção e os políticos que “só querem lugares”, consegue boa adesão. É o cansaço normal contra os que tudo prometem e depois dão muito poucochinho. Os partidos tradicionais, em vez de corrigirem a forma de fazer política e perceberem as razões do voto de protesto no Chega, persistem nas mesmas receitas, mesmos erros e abrem caminho a falências perigosas.

Quando os cidadãos avaliam os resultados, em concreto, dos últimos anos, sobretudo das políticas de habitação, saúde, carga fiscal e mesmo agricultura e qualidade dos serviços públicos, procuram uma plataforma de protesto. E o Chega diz precisamente o que o povo sente e quer ouvir.

Ex-presidente da Câmara Municipal de Matosinhos