Um dos temas predominantes neste período pré-eleitoral, suscetível de se converter em inúmeras discussões de café, prende-se com o carisma, designadamente o carisma de Luís Montenegro, ou a ausência dele. 

De acordo com os cultores da teoria, quando comparado com o principal adversário, Pedro Nuno Santos, este seria mais carismático, o que seria naturalmente reforçado pelo uso do col roulé, que faz de PNS uma espécie de António Costa de gola alta, embora o traje lhe fique claramente curto. Isto, somado ao estilo revolucionário e radical do líder socialista, ainda que moderado pelo momento eleitoral.

Mesmo quando comparado com André Ventura, ainda assim, no campeonato do carisma, o vencedor seria o segundo, pela habilidade comunicacional e pela agressividade que faltaria a Montenegro. Para esta avaliação, Ventura beneficia da vantagem de poder defender tudo e o seu contrário sem que nada lhe seja assacado e de prometer tudo a todos sem ter de provar viabilidade, sem uma única conta. Tanto pode anunciar uma moção de rejeição para derrubar um governo de direita como, no dia seguinte, indignar-se com a falta de clareza da AD na intenção de derrubar um governo minoritário do PS. 

Estas discussões e esta interpretação recordam-me sempre uma frase que ouvi ao prof. Adriano Moreira, também ele vítima, ao seu tempo, de análises sobre a qualidade do seu carisma: “Sabe, em rigor, o carisma é uma qualidade de origem divina atribuída aos santos e, muitas vezes, a Igreja Católica leva séculos a reconhecê-lo…” 

Numa versão mais prosaica, numa sociedade que já não é a sociedade-espetáculo, mas uma sociedade de comunicação simplificada e digital, resume-se muitas vezes o tema a uma capacidade, um dom comunicacional que faz com que alguém seja visto como sobredotado e, por isso, seguido. 

 No passado, outra vítima desta consideração fácil de ausência de carisma foi, no seu início, o líder da direita espanhola José María Aznar. Pode até parecer estranho, se nos lembrarmos que terminou o percurso como um dos mais marcantes (carismático?) chefes do governo espanhol. Em certa medida, podemos dizer o mesmo em relação a Pedro Passos Coelho, da desconfiança com que foi encarado de início ao respeito que conquistou em toda a direita.

Concluindo, o carisma que conta é o que podemos chamar carisma de função. Ou seja, as qualidades necessárias para o cargo a que a pessoa se propõe. Para primeiro-ministro, o que se pede é competência, rigor, consistência, ponderação e bom senso. Nesse plano, eu diria que Montenegro leva a melhor sobre qualquer dos seus adversários. José Miguel Júdice classificava-o, recentemente, como um homem comum, normal, entalado entre carismáticos, “um tipo para casar, e não para uma escapadinha”. Não vejo mal nisso e acho até que o país agradece ser governado por alguém normal e competente, com o senso comum de um bonus pater familias, em vez de mais um iluminado que nos atire, outra vez, para a bancarrota. 

Advogado

Artigo publicado na edição do NOVO de 27 de janeiro