No passado dia 15 de dezembro, a proposta da Iniciativa Liberal de criar um círculo de compensação foi chumbada pelo PS e PSD por se discutir um tema sensível em cima do período eleitoral, correndo-se igualmente o risco de se perder representatividade territorial.

Os liberais propuseram a criação de um círculo de compensação em incrementação ao tradicional método de Hondt aplicado em cada distrito, tendo como resultado um número de deputados proporcional ao número de votos da população em cada partido. Era excelente não era?

A proposta não passou, continuando a deixar eleitores, políticos e escrutinadores de calculadora na mão, permanecendo a questão do “voto útil” no nosso campo lexical. Mas esta questão é igual para todos, como ficou mais ou menos implícito no primeiro parágrafo? A resposta é não!

Assuma-se como “voto útil” aquele que permite eleger pelo menos um representante em cada círculo eleitoral, neste caso distrito, um total de 230 elementos que depois aprovará ou não um novo governo. Relembro que quando formos às urnas dia 10 de março, estamos a votar em listas propostas à Assembleia da República e não em candidatos a primeiro-ministro.

Nos distritos onde se elege menos deputados, e.g. Bragança e Guarda, que sufragam três deputados cada, e ainda nas regiões autónomas da Madeira e dos Açores, bem como na Europa e fora dela, não há muito por onde escolher, os grandes partidos, PS e PSD “dominam”. Em outras zonas onde são eleitos poucos deputados como é o caso de Évora ou Castelo Branco, o Chega tem vindo a tingir de azul-escuro algumas dessas áreas, visto que certas sondagens dão um deputado como certo nestes distritos, intrometendo-se assim este partido na “luta dos grandes” nestas zonas. Em Beja o despique é renhido, visto que o PCP poderá, tal como o partido de André Ventura, inserir no hemiciclo um representante.  Em resumo, na generalidade a opção irá recair no PS ou na AD, consoante se queira uma maioria de esquerda ou de direita. É assim que funciona o voto útil, apenas e só, nestas realidades “pequenas”!

Passemos a outras zonas um pouco mais abrangentes como Viseu, Coimbra, Santarém e Faro. Aqui é certo que há “espaço” para um terceiro partido. Pelo que apontam as intenções de voto, esse partido será o Chega. É seguro dizer que votar Chega nestes distritos é “útil”, seja voto de protesto ou não.

Nos distritos de Braga, Aveiro, Leiria, é provável que 5 partidos tenham hipótese de eleger. Iniciativa Liberal e Bloco de Esquerda contarão com quadros de peso – Moisés Ferreira (BE) por Aveiro e o próprio Rui Rocha (IL) por Braga são exemplos um voto útil à direita e outro à esquerda. Ambos competem pelo posto de quarta força política nestas zonas. As campanhas nestes três distritos serão fulcrais para expandir os dois grupos parlamentares. Já não nos deparamos com um campo onde a canção “voto na AD mas…” do duo Ele e Ela, de 1980, faça sentido.

Chegamos então aos três mais amplos distribuidores de lugares por partido das legislativas portuguesas: Lisboa, Porto e Setúbal. Qualquer um pode correr a São Bento por aqui, tornando a questão do voto útil como a conhecemos… inútil. Aqui, recomenda-se ao eleitor que vote por convicção e em consciência, dado que cada partido já mostrou que se pode, ou não, contar com ele.

Em suma, o eleitor tem apenas de entender qual a intenção de cada partido e que soluções apresenta para nos governar ou apoiar um governo até 2028. Na sua maioria, como os eleitores portugueses habitam no litoral, onde encontramos os maiores círculos, não precisam de reprimir convicções ou preferências entre programas eleitorais com o objetivo de evitar que esta ou aquela fação obtenham a desejada maioria. Nestas eleições, mais que nunca, os eleitores são chamados a votar no que acreditam, porque útil é mesmo a possibilidade de elegermos quem acreditamos que melhor nos representa.

Tomás Pereira, analista de dados