Está marcado para 19 de fevereiro o duelo que coloca frente a frente os principais candidatos a São Bento: de um lado, Pedro Nuno Santos, recém-eleito líder dos socialistas, que acumula experiência governativa; do outro, Luís Montenegro, o antigo líder parlamentar da era Passos Coelho, que comanda as tropas sociais-democratas há mais de ano e meio. Qual dos dois se sairá melhor nos debates? Especialistas ouvidos pelo NOVO concordam que são ambos políticos com experiência e bons comunicadores, e que será o perfil de cada um, a preparação e até as sondagens a determinar o desempate no confronto.

A “convicção” de Pedro Nuno Santos, em contraste com a imagem mais “cinzenta” do líder do PSD, pode ser um trunfo para o candidato do PS, analisa José Palmeira, professor na Universidade do Minho. “Montenegro, a priori, pode dar uma imagem de maior ponderação, mas, muitas vezes, falta-lhe um outro aspeto que pode favorecer Pedro Nuno: a convicção. O eleitorado gosta de alguém que mostre convicções. Montenegro parece um pouco mais plástico, menos convicto. E isso poderá penalizá-lo”, sublinha o especialista.

Por outro lado, o candidato social-democrata não deixará de apontar a Pedro Nuno os “deslizes” cometidos enquanto ministro (como a questão do novo aeroporto e a indemnização paga à ex-administradora da TAP, Alexandra Reis) e de o associar a uma certa impulsividade e imaturidade – críticas que lhe são frequentemente apontadas mas que, analisa José Palmeira, o agora secretário-geral do PS “tem vindo agora a limar” e a “tentar corrigir”.

No entender do professor da Universidade do Minho, Luís Montenegro parte para esta disputa na ofensiva, ao passo que Pedro Nuno jogará mais na defensiva. E isso, numa primeira análise, até pode ser uma vantagem para o social-democrata, que vai confrontar o antigo ministro das Infraestruturas “com aquilo que foi a sua prestação enquanto membro do governo e com os principais problemas da governação do PS”. “É mais fácil utilizar a linguagem pela negativa e confrontar o adversário com o que está mal”, diz o politólogo.

Pedro Nuno defender-se-á apontando sobretudo ao futuro, mas sem “alienar aquilo que a governação socialista trouxe de bom”, mitigando, ao mesmo tempo, os problemas relacionados com a habitação, a saúde e a educação. Usará também a máxima de que é um fazedor, uma mensagem “exagerada” mas que “está a fazer o seu caminho”. E acabará, assim, por ter uma mensagem mais pela positiva, algo que o eleitorado aprecia, diz Palmeira.

O professor da Universidade do Minho recorda, a este propósito, o debate entre José Sócrates e Manuela Ferreira Leite (2009), em que a então líder do PSD “só propunha, como no tempo da Segunda Guerra Mundial, sangue, suor e lágrimas”, e o socialista “propunha TGV e novos aeroportos”. “Na altura, o eleitorado gostou daquele discurso mais cor-de-rosa que lhe foi apresentado.”

O exemplo serve para defender que o PSD (que concorre nestas eleições coligado com CDS e PPM) “não pode ir para os debates com um discurso muito catastrofista”. “Tem de incutir esperança e fazer a ponte entre o que correu mal e apresentar propostas. Um discurso pela positiva, mas alicerçado em propostas que não assustem os eleitores, seria fundamental.”

Mas o formato dos debates tem vindo a mudar significativamente e longe vão os tempos em que um duelo desta natureza durava horas. Sendo o tempo escasso para debater e aprofundar vários temas, valem os soundbites. “Convém que essas mensagens sejam fortes e apelativas junto do eleitorado que ambos disputam e que sejam, de facto, bem justificadas”, sublinha Palmeira.

Na opinião deste politólogo, nem Pedro Nuno nem Luís Montenegro terão dificuldades em fazê-lo, mas o candidato socialista pode estar mais descontraído e sem necessidade de ganhar o debate, caso as sondagens continuem a colocar o PS em vantagem. “Bastar-lhe-á um empate; Montenegro precisa de demonstrar mais”, analisa Palmeira, realçando aquela que poderá ser uma vantagem do candidato do PSD: “Está mais habituado ao debate pelo facto de ter sido líder parlamentar.” Apesar de já terem passado alguns anos, “o treino que tem da retórica parlamentar pode dar-lhe alguma vantagem no confronto com Pedro Nuno”, conclui, antevendo, ainda assim, que nenhum dos candidatos vai sair do confronto direto arrasado pelo adversário e “não haverá propriamente um K.O.”.

Debates decisivos

André Freire subscreve a importância dos confrontos televisivos para os principais candidatos a São Bento, numa altura em que PS e PSD ainda estão muito taco a taco nas sondagens. “Os debates vão ser úteis e necessários”, diz o professor de Ciência Política do ISCTE, vincando as características dos dois políticos: “Pedro Nuno Santos é um grande comunicador, já deu provas disso. Mas Luís Montenegro já foi líder parlamentar e também é um grande comunicador. São os dois quadros muito bem preparados, com experiência tribunícia. Ambos precisam dos debates e de marcar pontos.” E, no final, “tudo dependerá da prestação e da capacidade de apresentar propostas alternativas, de se afirmar e de fazer contraponto ao adversário”.

E, aqui, Pedro Nuno Santos corre um risco, na opinião do investigador, se ceder à ideia de se posicionar muito ao centro. “Pode acabar por redundar depois num esbater da clareza das propostas”, avisa, acrescentando que “ser assertivo, combativo e claro nas suas posições”, características que encontra no líder do PS, “são virtudes, e não problemas”.

Para André Freire, os holofotes não irão estar apenas no debate de Pedro Nuno e Luís Montenegro. Importará também olhar para a forma como as restantes forças políticas se vão apresentar a jogo numa fase em que se prevê que a política de alianças se afigure mais determinante do que nunca para a governabilidade do país: “Têm de se demarcar, ser contundentes e fazer críticas a todos os adversários, mas o grau em que isso acontecerá e a disponibilidade mais ou menos clara que manifestem para entendimentos vão ser questões cruciais.”

O principal alvo das críticas nos debates será o candidato do partido que está no governo, Pedro Nuno Santos, prevê o investigador, apontando que haverá também um “cerco” ao Chega – partido que mais deverá crescer nestas eleições e que transformou também Montenegro num alvo a abater – pela “inflação de promessas irresponsáveis e inexequíveis que faz”.

“Vai ser o jogo das suas vidas”

José Adelino Maltez também reconhece que os candidatos do PS e do PSD são “muito batidos na política”, mas lembra que nenhum dos dois alguma vez esteve no papel de concorrer a primeiro-ministro. “Esta incumbência exige mais treino, sobretudo no caso de Pedro Nuno Santos, em que há uma distância enorme entre o discurso de púlpito e em comícios e a conversa em entrevista”, assinala o professor catedrático.

Mas nada que não esteja a ser devidamente preparado e treinado com os conselheiros e, por isso, Maltez também não antecipa qual dos dois levará a melhor no confronto direto: “Vai ser o jogo das respetivas vidas. Não vejo nenhum vencedor à partida. Vamos ver se são tão bons como até agora e quem nos vai revelar uma surpresa na argumentação rápida e informada.” Certo é que vão ser debates “decisivos” e “reveladores”, tendo em conta que a maioria dos líderes são estreantes.

Artigo originalmente publicado na edição do NOVO de 20 de janeiro de 2024