Passada a quadra natalícia, decorreram no último fim de semana dois eventos fundamentais para o auxílio à clarificação que os portugueses, necessariamente, farão a 10 de março próximo, com as naturais consequências em democracia.
Desde logo, o congresso do Partido Socialista – esperada festa apoteótica – com a sua (vã) tentativa de branquear o facto de nos últimos 28 anos este ser o responsável pela condução dos destinos do país em mais de 20.
Misto de efabulação da realidade nacional – própria de uma clique socialista que tende a afastar-se dos problemas do dia-a-dia dos seus concidadãos – com uma saudosista evocação, ao melhor estilo soviético, da memória do seu “querido líder”, António Costa.
Com o seu novo chefe, exaltado por muitos (que aguardam o seu lugar ao sol na gigantesca máquina do Estado que o partido assume como sua), mas, cirurgicamente, moderando a sua natural impulsividade, na ânsia de demonstrar ao povo a sua novel postura de homem de Estado.
E, por outro lado, o anúncio público da nova AD, com toda a carga simbólica que a sigla representa, em particular para os mais velhos e resistentes à mudança, no sentido de voto, resgatando o histórico CDS para a sua (necessária e merecida) representação parlamentar.
Não deixa de ser curioso, contudo, que seguindo as venturas e desventuras desse partido fundador do regime – habitualmente aliado do PSD –, os seus atuais responsáveis nacionais tenham sido os mesmos que, tanto em 2022 como nos idos de 2005, haviam obstaculizado a mesma coligação pré-eleitoral, com duas maiorias absolutas socialistas como resultado.
Como cantou o intemporal Camões: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.”
Está, então, lançado o verdadeiro debate – de protagonistas, forma de estar, mas, sobretudo, de propostas – para o ato eleitoral de 10 de março.
Caberá, nesse sentido, a ambos os “blocos” (formal ou informalmente assim chamados) apresentarem as suas ideias, suficientemente distintas, disruptivas e – acima de tudo – alternativas, para que os eleitores possam fazer o seu melhor juízo.
Não deixo de notar que, ao longo do fim de semana, para as fulcrais áreas constitutivas do Estado, aquelas que nos garantem a independência e soberania há quase 900 anos, nem uma palavra.
Quando na segurança interna, assistimos ao descalabro das forças de segurança, com umas – PJ – a serem consideradas de primeira, e outras, PSP e GNR, a serem tratadas como autênticos malfeitores pelo governo socialista.
Na defesa nacional, à beira da indigência, com quartéis vazios e a simpática e amistosa titular da pasta única e exclusivamente preocupada com (a sua) agenda de género.
Por outro lado, a justiça – no cerne da atual crise política –, com os partidos políticos, teimosamente, a omitirem esta depauperada área das suas preocupações.
Será por receio ou por puro corporativismo?
E, finalmente, na política externa, quando somos pouco mais do que uma caixa de ressonância das potências dominantes no xadrez internacional, como em outros (tristes) momentos da nossa – quase – milenar história.
Sinal dos tempos ou dos protagonistas?
Campo aberto para quem – nas extremidades dos campos políticos – as coloca no centro da atividade política, não tendo sequer uma palavra para as temáticas económicas e sociais.
Se o PS – o verdadeiro partido conservador em Portugal – nada de distintivo procurará propor, da nova e revigorada AD esperam-se propostas diferentes, também (diria sobretudo) ideologicamente, executadas por outros protagonistas e credíveis na sociedade.
Tal como com Júlio César, há mais de 2 mil anos após atravessar o rio Rubicão, será o povo a ter o veredito final.