O Global Risks Report de 2024, que foi divulgado esta quarta-feira, coloca a desinformação e a informação falsa no topo dos riscos globais. O relatório produzido pelo Fórum Económico Mundial, em parceria com o Zurich Insurance Group e a Marsh McLennan, alerta para um cenário de riscos globais no qual os progressos no desenvolvimento humano estão a ser lentamente reduzidos, deixando os estados e os indivíduos vulneráveis a riscos novos e ressurgentes.

O relatório tem por base a opinião de mais de 1.400 especialistas em riscos globais, decisores políticos e líderes da indústria inquiridos em setembro de 2023.

No top-10 dos riscos num período de dois anos, o risco de desinformação e informação falsa ocupa o primeiro lugar, seguido dos eventos climáticos extremos e da polarização social. Este é o top-10 completo dos riscos a dois anos:

  1. Desinformação e informação falsa
  2. Eventos climáticos extremos
  3. Polarização social
  4. Insegurança cibernética
  5. Conflitos armados interestaduais
  6. Falta de oportunidades económicas
  7. Inflação
  8. Migração involuntária
  9. Recessão económica
  10. Poluição

Nos riscos a 10 anos, é notória a forma como os riscos climáticos e ambientais dominam as preocupações a longo prazo, surgindo nas quatro posições de topo. Este é o top-10 dos riscos a 10 anos:

  1. Eventos climáticos extremos
  2. Alterações críticas nos sistemas terrestres
  3. Perda de biodiversidade e colapso dos ecossistemas
  4. Escassez de recursos naturais
  5. Desinformação e informação falsa
  6. Resultados adversos das tecnologias de Inteligência Artificial
  7. Migração involuntária
  8. Insegurança cibernética
  9. Polarização social
  10. Poluição

Ordem multipolar

De acordo com os especialistas que participaram no relatório, a geopolítica mundial pode registar mudanças significativas nos próximos anos. Dois terços dos especialistas preveem que, na próxima década, “será desenvolvida uma ordem multipolar ou fragmentada, na qual as médias e grandes potências se confrontam e estabelecem – mas também impõem – novas regras e normas”, refere o relatório, que destaca uma perspetiva predominantemente negativa para o mundo a curto prazo, e que deverá piorar a longo prazo.

Tendo em conta esse cenário sombrio, o Global Risks Report 2024 admite que a cooperação em matérias globais urgentes pode ser escassa e insiste na necessidade de novas abordagens e soluções.

“O Global Risks Report 2024 é muito claro a enfatizar a forma como riscos mais recentes, como a desinformação e as informações falsas, se têm feito acompanhar de riscos que persistem – e, em certos casos, se têm agravado, nomeadamente a emergência de fenómenos climáticos extremos, riscos cibernéticos e ameaças de maior conflitualidade entre Estados. Estes receios são reveladores da urgência de olharmos para estes desafios como parte de um desafio maior, que nos convoca a todos, sociedades e Estados, no sentido de procurarmos objetivos comuns e pontos de consenso”, afirma Edgar Lopes, Chief Risk Officer da Zurich Portugal. “Uma cooperação tão efetiva quanto urgente, quer à escala local, quer à escala global, é essencial para dar resposta às exigências do tempo que vivemos”.

Esta é uma visão partilhada pelo Fórum Económico Mundial, que apela à união dos líderes mundiais. “Uma ordem global instável caracterizada por narrativas polarizadoras e insegurança, o agravamento do impacto dos fenómenos climáticos extremos e a incerteza económica estão a causar a propagação de riscos acelerados – incluindo a desinformação e a informação falsa”, frisa Saadia Zahidi, Managing Director do Fórum Económico Mundial. “Os líderes mundiais devem unir-se para responder às crises de curto prazo, bem como lançar as bases para um futuro mais resiliente, sustentável e inclusivo”.

Incerteza económica e clivagens

A perspetiva está longe de ser positiva no que diz respeito ao panorama económico. Segundo o relatório, os próximos anos serão marcados por uma incerteza económica persistente e por crescentes clivagens económicas e tecnológicas. A falta de oportunidades económicas ocupa o sexto lugar nos riscos dos próximos dois anos e, a longo prazo, os obstáculos à mobilidade económica poderão aumentar, afastando grandes segmentos da população das oportunidades económicas. Os países propensos a conflitos ou vulneráveis às alterações climáticas podem ficar cada vez mais isolados do investimento, das tecnologias e da criação de emprego, o que pode levar as pessoas a serem mais propensas ao crime, à militarização ou à radicalização.

Além da cooperação global na resposta aos riscos, o relatório aponta o caminho para outras respostas que podem ser dadas individualmente por cada estado, como o reforço da resiliência individual e estatal através de campanhas de literacia digital sobre desinformação e informação falsa, ou a promoção de uma maior investigação e desenvolvimento de modelos e tecnologias climáticas com potencial para acelerar a transição energética, com a contribuição dos setores público e privado.

“Os avanços da inteligência artificial irão perturbar radicalmente as perspetivas de risco das organizações, com muitas a lutarem para reagir às ameaças decorrentes da desinformação, da desintermediação e do erro de cálculo estratégico. Ao mesmo tempo, as empresas estão a ter de negociar cadeias de abastecimento que se tornaram mais complexas devido à geopolítica, às alterações climáticas e às ciberameaças de um número crescente de agentes maliciosos. Será necessário um foco incansável para criar resiliência a nível organizacional, nacional e internacional – e uma maior cooperação entre os setores público e privado – para navegar neste cenário de risco em rápida evolução”, sublinha Carolina Klint, Chief Commercial Officer da Marsh McLennan Europa.

“Os riscos conhecidos estão a intensificar-se e estão a surgir novos riscos – mas também oferecem oportunidades. As ações transfronteiriças coletivas e coordenadas desempenham o seu papel, mas as estratégias localizadas são fundamentais para reduzir o impacto dos riscos globais. As ações individuais dos cidadãos, das empresas e dos países podem fazer avançar a redução dos riscos globais, contribuindo para um mundo mais brilhante e mais seguro”, assinala, por sua vez, John Scott, o Head of Sustainability Risk do Zurich Insurance Group.