Por AD podemos entender, desde logo, Anno Domini, ou seja, ano do senhor na era depois de Cristo. Não fugindo à regra da época, dedico estas linhas a um ponto de situação relativo aos principais protagonistas do próximo ano, tendo em atenção o seu ponto de partida e as expectativas para o ano que vai começar.

Não descurando como facto muito relevante uma outra AD: a Aliança Democrática, com que PSD e CDS concorrerão, em conjunto, às próximas eleições do dia 10 de março.

Sobre esta, começando pela denominação, se por um lado ela pode ser discutível, tantas são as diferenças para a original, por outro, é uma escolha que parece feliz porque remete para a história e para o imaginário do centro-direita, lembrando figuras como Sá Carneiro ou Adelino Amaro da Costa, exemplos de convicções, de realismo e, muito importante nestes tempos, referências de moderação à direita.

Passando aos protagonistas: desde logo, Luís Montenegro. O líder do PSD e da coligação termina 2023 a acreditar nas sondagens, aquém daquele que será o seu objetivo. Mas, tendo em consideração que definiu como autolimitação para governar ser o vencedor das eleições, fez a escolha certa ao formar a AD e tem sido absolutamente coerente com o que disse. No próximo ano, Montenegro, terá sobretudo de demonstrar capacidade para o exercício do cargo de primeiro ministro, mostrando consistência e conhecimento dos dossiers da governação.

Já em relação a Nuno Melo, partilho a ideia que vi defendida por alguns analistas que, se o ponto de partida era difícil, o líder do CDS será sempre, um vencedor antecipado. Com efeito, aquele que seria sempre o primeiro objetivo do CDS, regressar ao parlamento, está assegurado.  Mas, ao não concorrer sozinho, o CDS fica ao mesmo tempo com o ónus de demonstrar a sua mais valia e, por outro, a sua autonomia no seio da coligação. A invocação do “partido de quadros” é boa, mas estes terão de ser expostos aos olhos do eleitorado. O CDS, renascido, tem um caminho a percorrer.

O resto da direita não reagiu especialmente bem a este facto novo, a AD.

Rui Rocha e a IL cometeram mesmo um erro que lhes pode custar caro ao repetir o erro cometido nas autárquicas em Lisboa. Ao colocar-se se de fora, apesar dos convites insistentes, ficou mais exposto ao voto útil na AD.

Pior foi a reação de André Ventura. Se o seu ponto de partida era muito favorável, com sondagens impensáveis para o Chega, Ventura, acabou por demonstrar incómodo e mesmo algum nervosismo perante a coligação. Anunciar uma moção de rejeição a um eventual governo de centro direita, pode ser mesmo um tiro no pé. A partir daqui corre o risco de os eleitores de direita olharem para o Chega como parte do problema, em vez de ser parte da solução.

Este texto é, deliberadamente, sobre a direita, a esquerda tem problemas bem diferentes com Pedro Nuno Santos, a procurar descolar dos oito anos de governação e o PCP e o BE a tentarem explicar a sua utilidade, face ao PS mais à esquerda de sempre.

Um bom AD/2024, para todos.

Advogado

Artigo publicado na edição do NOVO de sábado, dia 30 de dezembro