O antigo primeiro-ministro José Sócrates afirmou esta terça-feira, 19 de dezembro, que não deixou em tribunal “pedra sobre pedra” sobre “a mentirola que o Ministério Público (MP) arranjou” relativamente à relação dos governos que liderou com o ex-presidente do Banco Espírito Santo Ricardo Salgado.
O ex-primeiro-ministro foi ouvido como testemunha no julgamento do caso EDP, que prossegue no Campus de Justiça, em Lisboa, numa sessão que contou ainda com testemunhos dos ex-chefes de governo José Manuel Durão Barroso e Pedro Passos Coelho.
“Eu estou muito contente comigo próprio, tenho a sensação que sobre esta mentirola que o MP arranjou sobre a relação do governo com Ricardo Salgado não ficou pedra sobre pedra”, disse o antigo governante aos jornalistas, à saída do tribunal.
José Sócrates, que sublinhou as relações de Durão Barroso e Passos Coelho com o Grupo Espírito Santo (GES) – Durão Barroso foi contratado pelo ex-banqueiro e Passos Coelho era dirigente de uma empresa que tinha o GES como um dos acionistas – defendeu que a ideia de que “o doutor Salgado era amigo dos socialistas não tem a mínima sustentação”.
“É falso, isso é uma mentira […], é um revisionismo histórico que o MP pretendeu desenvolver ao longo destes últimos 12 anos contra mim, querendo vender aos portugueses a ideia de que o doutor Ricardo Salgado era próximo de mim. Isso é falso, absolutamente falso”, disse Sócrates.
O antigo primeiro-ministro acrescentou que nunca teve o número de telefone de Salgado, nunca esteve no seu gabinete e não o conhecia antes de ser primeiro-ministro, com exceção de uma reunião no Ministério do Ambiente três anos antes de chefiar o governo.
Aos jornalistas reiterou o que já tinha afirmado na sessão de hoje do julgamento, insistindo que não sabia de pagamentos do BES ao arguido no caso EDP e seu ex-ministro da Economia, Manuel Pinho, considerando a pergunta “insultuosa”, ainda que se tenha declarado “satisfeito por saber que esses pagamentos são decorrentes de um contrato assinado antes de Manuel Pinho ir para o governo”.
“O mais importante aqui neste julgamento é o seguinte: o doutor Manuel Pinho recebeu algum dinheiro que não lhe era devido? A minha convicção é que não recebeu, mas talvez o jornalismo pudesse ter uma avaliação crítica e dizer se sim ou se não em função do que foi dito já aqui no tribunal. Tenho impressão que vocês iriam concordar comigo”, disse Sócrates, que deixou críticas aos jornalistas, que acusou de “reproduzir” as teses do MP.
Questionado sobre o que pensa do facto de Manuel Pinho ter admitido ocultar património enquanto era membro do Governo, Sócrates considerou a pergunta “muito provocatória” e uma tentativa de desvio face ao que está em discussão no tribunal, que é saber se houve um favorecimento ilegal do seu executivo à EDP: “Eu vim aqui testemunhar que não, isso nunca aconteceu”.
“Essa mentira do MP é propalada há 12 anos. Há 12 anos que o MP diz que houve um favorecimento ilegal à EDP e agora estão aqui num tribunal 12 anos depois com tudo menos a EDP. Este processo transformou-se em tudo menos EDP. É absolutamente escandaloso que o MP considere que ao fim de 12 anos continua a investigar. Ao fim de 12 anos não tem esse direito, porque com esse tempo o MP transforma a presunção de inocência numa presunção pública de culpabilidade”, criticou.
Manuel Pinho é acusado de corrupção passiva para ato ilícito, corrupção passiva, branqueamento e fraude fiscal.
A sua mulher, Alexandra Pinho, está a ser julgada por branqueamento e fraude fiscal – em coautoria material com o marido -, enquanto o ex-presidente do BES responde por corrupção ativa para ato ilícito, corrupção ativa e branqueamento de capitais.