Os tempos que correm, em que comunicação e informação muitas vezes se reduzem a memes e o discurso político a frases simples de duas linhas, no máximo, são os ideais para a afirmação daquilo que Alain de Benoist caraterizou como “O momento populista”, prognosticando o fim da direita e da esquerda tradicionais e a crise das democracias.
Sabendo que a política é cíclica não creio que esta disputa entre populistas e a direita tradicional seja um caso encerrado. De Rishi Sunak a Nunez Feijóo, existem lideranças conservadoras que, confrontadas com o fenómeno, têm procurado reagir.
Neste contexto, vale a pena olhar para a eleição do novo presidente argentino, Javier Milei, tratado na nossa comunicação social como sendo de extrema-direita (por cá, tudo que seja populista e não seja de esquerda ou do Bloco de Esquerda, só pode ser de extrema-direita). Milei, é, sobretudo, um ultraliberal, cuja vitória se ficou a dever tanto ao seu estilo comunicacional desbragado como à caótica situação económica deixada pelos peronistas, como uma inflação a atingir os 142% (!!!).
O plano do novo presidente argentino, conhecido como El Loco, pode não ser tão tresloucado quanto as suas declarações na campanha eleitoral deixavam adivinhar, até em função da composição do governo que apresentou, onde é evidente a presença de ministros, desde logo na economia, próximos do antigo presidente Maurício Macri, um conservador liberal clássico. No entanto, um plano que se baseia numa redução drástica de despesa pública, na extinção de ministérios e na desvalorização da moeda argentina convertendo-a ao dólar significa que, em pouco tempo, a classe média verá os seus rendimentos e património reduzidos a metade e a pressão será brutal. A receita liberal de Milton Friedman e da escola de Chicago só teve sucesso, na América Latina, no Chile – imposta, durante a ditadura de Pinochet.
Mais tresloucadas foram as declarações do líder do VOX, Santiago Abascal, na tomada de posse de Milei. Aproveitando o facto de estar do outro lado do Atlântico, o líder radical resolveu afirmar que um dia o povo espanhol quereria “pendurar Pedro Sánchez, pelos pés”.
Lembra, claro, a imagem de Mussolini e da sua amante, Clara Petacci, mortos por partizans e pendurados pelos pés numa praça de Milão para que a multidão os pudesse humilhar e ultrajar. Causou o efeito esperado. Independentemente do papel de verdadeira traição a Espanha e à Constituição que o governo de Sánchez representa, ao trocar soberania pela manutenção no poder e aprovando uma vergonhosa amnistia para os secessionistas. uma declaração deste teor, pelo seu carácter violento, só favorece o próprio Sánchez, que a usa para se vitimizar e como forma de condicionar a direita tradicional. Por todo o lado, lá como cá, a lógica é sempre a mesma e o tremendismo dos radicais é o principal argumento dos socialistas para instigar o medo do extremismo e afastar a direita tradicional, do poder.
Advogado
Artigo publicado na edição do NOVO de dia 16 de dezembro