A Assembleia Geral da ONU reuniu-se esta quinta-feira de emergência para abordar a situação em Gaza, com a Palestina a lamentar a falta de empatia da comunidade internacional pelos palestinianos mortos nos bombardeamentos israelitas, e Israel a criticar as Nações Unidas.
Face ao impasse contínuo no Conselho de Segurança da ONU sobre o assunto e à situação cada vez mais grave no enclave, vários Estados-membros, liderados pela Jordânia, recorreram à Assembleia Geral da ONU para uma sessão especial de emergência para abordar as “ações ilegais israelitas em Jerusalém Oriental ocupado e no resto do Território Palestiniano Ocupado”.
“Estamos aqui reunidos enquanto os palestinianos em Gaza estão sob bombardeamentos, enquanto famílias estão a ser mortas, enquanto os hospitais estão paralisados, enquanto bairros estão a ser destruídos, enquanto as pessoas fogem sem nenhum lugar seguro para ir”, disse o diplomata palestiniano Riyad Mansour, o primeiro a discursar numa sessão que conta com mais de 110 Estados-membros inscritos, incluindo Portugal.
“Não há tempo para lamentar”, afirmou o representante palestiniano da ONU, em lágrimas, apontando para o aumento do número de mortos.
O diplomata lamentou então a falta de empatia e de indignação da comunidade internacional face às vidas palestinianas perdidas, em comparação com a comoção gerada pelo ataque do grupo islamita Hamas contra cidadãos israelitas.
“Porque é que alguns sentem tanta dor pelos israelitas e tão pouca dor por nós, os palestinianos? Qual é o problema? Temos a cor de pele errada? A nacionalidade errada? A origem errada?”, questionou, num discurso emocionado.
Riyad Mansour lembrou os comentários recentes de Israel no Conselho de Segurança da ONU sobre como o seu povo está a sofrer, frisando que o povo palestiniano também está em sofrimento.
“Israel acredita que as leis da humanidade e de toda a ordem baseada no direito internacional aplicam-se a outros, mas não a Israel, que protege as vidas israelitas e permite o assassínio de palestinianos”, reforçou.
Citando relatos de vítimas no terreno, Mansour disse que a ajuda humanitária é extremamente necessária.
Há 1.000 palestinos mortos todos os dias, acrescentou o diplomata, observando que nada pode justificar crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
“Porque não sentir uma sensação de urgência para acabar com a matança?”, questionou novamente. “Estão a fazer-nos retroceder 80 anos ao tentar justificar o que Israel está a fazer agora”, disse.
“Desta vez, é demais. (…) O único caminho a seguir é a justiça para o povo palestino”, disse ele”, afirmou.
Nesse sentido, Mansour apelou aos Estados-membros presentes na Assembleia Geral para votarem a favor de um projeto de resolução que irá a votos na sexta-feira, que pede um cessar-fogo imediato, exige que Israel rescinda a ordem para que os habitantes de Gaza se desloquem para o sul, e pede um acesso humanitário à Faixa de Gaza sem entraves.
“Votem para acabar com a matança, votem para acabar com esta loucura”, pediu.
A seguir a Mansour, o representante permanente de Israel na ONU, Gilad Erdan, defendeu que o massacre de 07 de outubro, perpetrado pelo Hamas, e a resposta que se seguiu “não tem nada” a ver com os palestinianos, o conflito árabe-israelita ou a questão palestiniana.
Nesse sentido, Erdan criticou a sessão de hoje e a resolução que irá a votos por não se focar nas atrocidades cometidas pelo Hamas.
“Escreveram esta resolução, (…) e assumem que vocês já se esqueceram quem foram os responsáveis por esta violência desumana, e esperam que vocês a apoiem automaticamente”, disse, apelando a que a resolução seja rejeitada.
O diplomata israelita estendeu posteriormente as suas críticas às Nações Unidas, considerando-a “avariada” e “moralmente corrompida” por permitir que esta resolução vá a votos, assim como por permitir que países como o Irão discursem na sessão.
“Esta sessão mostra que este órgão está a perder a sua relevância e legitimidade. Estamos a assistir a uma profanação do que esta Organização deveria ser”, afirmou.
O embaixador exibiu ainda imagens chocantes de israelitas assassinados e fez um minuto de silêncio pelas vítimas.