A antiga ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues criticou esta quinta-feira o “baixo” financiamento público da ciência em Portugal, sublinhando que nos últimos anos o montante atribuído pelo Orçamento do Estado desceu para níveis iguais aos de 1991.
Em declarações aos jornalistas na Universidade do Minho, em Braga, no lançamento do livro “O Futuro da Ciência e da Universidade”, de que é coordenadora, Maria de Lurdes Rodrigues apelou para a urgência da inversão daquela trajetória e disse que é “muito preocupante” a forte dependência do sistema científico nacional dos fundos europeus.
“A ciência tem de continuar a ser uma prioridade política para o futuro dos jovens, para o futuro do país, porque, se não fizermos agora os investimentos necessários, o futuro pode mesmo estar comprometido”, alertou.
Maria de Lurdes Rodrigues foi ministra da Educação entre 2005 e 2009, num Governo liderado pelo socialista José Sócrates, sendo atualmente reitora do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa.
A antiga governante disse compreender que as dificuldades decorrentes da intervenção da troika em Portugal, mas defendeu que “é necessário agora retomar o investimento em ciência, sem o qual não haverá futuro”.
Uma retoma que, ressalvou, não vê espelhada no Orçamento do Estado para 2024, em que consta “um aumento de 5% para a Fundação para a Ciência e Tecnologia”, que “não cobre sequer” a inflação.
Para Maria de Lurdes Rodrigues, é “muito preocupante” a grande dependência do sistema científico nacional dos fundos europeus.
“É muito preocupante porque nos deixa vulneráveis às decisões políticas da Comissão Europeia”, referiu, defendendo que pode ficar em causa a soberania de Portugal para definir aquilo que é prioritário para o país.
O tema foi também hoje abordado pelo reitor da Universidade do Minho e vice-reitor do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, Rui Vieira de Castro, que aludiu à “contradição quase insanável” entre o discurso do Governo que enfatiza a importância da ciência e o “baixo” nível de financiamento do setor.
“Não há discurso público e designadamente político sobre ciência, sobre a investigação, sobre o ensino superior que invariavelmente não seja um discurso a sublinhar a importância destes setores. A questão é que, depois, quando nós vamos ver as medidas concretas que são adotadas e, em particular, os financiamentos que são dedicados a essas áreas de atividade, eles revelam-nos uma profundíssima estagnação”, criticou.
Para Rui Vieira de Castro, quando o investimento público em ciência “se mantém no mesmo nível que estava há 30 anos, alguma coisa está claramente mal”.
O responsável alertou que, caso o rumo não seja invertido. “haverá perdas muito significativas no sistema científico”, nomeadamente porque ficará sem condições financeiras para suportar a vinculação de investigadores.