A eurodeputada portuguesa Isabel Santos defendeu este sábado que “a única forma de combater o tráfico de migrantes é criar canais de passagem seguros e regulares”, deixando fortes críticas à estratégia do Governo italiano para a crise migratória.
De visita à ilha de Lampedusa, num grupo informal de eurodeputados, Isabel Santos defendeu que a União Europeia (UE) deve dar uma resposta coletiva e solidária ao aumento substancial de procura de migrantes e refugiados, através da criação de corredores humanitários.
“Não há outra forma de fazer este combate. As medidas securitárias só alimentam os traficantes que exploram estas pessoas e alimentar regimes que violam as regras democráticas e os direitos humanos”, disse a eurodeputada socialista, em declarações à agência Lusa, referindo-se à estratégia seguida pelo Governo italiano.
“O Governo de Georgia Meloni tem uma única linha: a linha do retorno de todas estas pessoas. Basicamente, não quer acolher estas pessoas, quer antes externalizar a política de imigração e asilo e a criminalização das ONGs”, denunciou Isabel Santos.
A eurodeputada explicou que “a Itália pretende acordos com a Tunísia, acordos com países terceiros, alimentando regimes autocráticos e ditatoriais e promover operações que bloqueiem a saída destas pessoas”.
Isabel Santos reconhece que, da parte da UE deve haver mais solidariedade, através de um pacto migratório que tarda em ser assinado, em particular por causa de objeções colocadas pelos governos da Hungria e da Polónia.
“Temos de superar os vetos que estão a ser levantados não só pela Hungria e pela Polónia, mas também pela senhora Meloni, que ameaça bloquear qualquer tipo de acordo em volta do pacto, quando ela devia estar ao lado daqueles que promovem uma solução para a crise migratória”, defendeu a eurodeputada.
Isabel Santos disse à Lusa que, no centro de acolhimento de Lampedusa, que visitou hoje de manhã, encontrou uma situação bem mais tranquila do que aquela que as televisões têm mostrado nos últimos dias.
“Hoje, havia pouco mais de 180 pessoas no centro de acolhimento e a situação parece controlada, dentro do que é possível”, comentou a eurodeputada portuguesa, embora reconhecendo que é preciso analisar o crescimento da vinda de refugiados que se tem vindo a verificar.
“Temos de estar preparados para responder coletivamente de forma solidária e de uma forma mais humanizada”, defendeu Isabel Santos, deixando fortes críticas à estratégia do Governo italiano.
Isabel Santos visita Lampedusa integrada numa delegação do Parlamento Europeu que se organizou informalmente para se associar às atividades que se realizam esta semana para lembrar os 10 anos de um grande acidente ao largo da ilha italiana, em 03 de outubro de 2013, em que morreram 368 migrantes e refugiados.
Isabel Santos lamenta que, passados 10 anos sobre este acidente e passados vários anos sobre o pico da crise migratória de 2015, não haja maior capacidade de resposta por parte das instituições italianas.
“Lamento também que não haja uma resposta mais solidária por parte da União Europeia”, disse Isabel Santos, defendendo a urgência de um pacto migratório.
“Mas não pode ser um pacto a qualquer custo, apenas baseado em medidas securitárias e de retorno dos migrantes e refugiados. Deve haver medidas de solidariedade. Essa tem sido a grande batalha do Parlamento Europeu”, assegurou a eurodeputada portuguesa.
Isabel Santos chegou a Lampedusa no dia em que um incêndio na casa das máquinas provocou o naufrágio de um navio que transportava migrantes, que foi posteriormente resgatado, tendo os passageiros sido transportados para outros pontos de Itália.
“Por isso, quando aqui cheguei, a situação é bem mais calma do que foi há algumas semanas. Chegaram a estar aqui cerca de 11.000 pessoas, quando a capacidade de acolhimento é de apenas cerca de 400 pessoas”, disse Isabel Santos, acrescentando que a população da ilha tem respondido bem às solicitações de casos de emergência.
“Tive a oportunidade de ouvir pessoas ligadas a organizações não governamentais, outras ligadas ao setor turístico, representantes dos pescadores, que dizem que a ilha respondeu bem”, explicou a eurodeputada socialista portuguesa.