MEO Kalorama: um festival ainda à procura da fórmula perfeita

Limadas algumas arestas da edição anterior, que foi a de estreia, a organização alterou a disposição do recinto, mas algumas coisas ainda falharam. Festival pode sair da Bela Vista no próximo ano.

Passaram pelo Parque da Bela Vista cerca de 105 mil pessoas – menos 7 mil do que em 2022, ano de estreia do MEO Kalorama –, o que vem confirmar a tendência de menor público a ir a festivais de verão este ano, fruto do aumento do custo de vida generalizado.

Para já, sabe-se que o festival regressa, no próximo ano, entre 29 e 31 de agosto, mas ainda não se sabe se se mantém no Parque da Bela Vista.

Em declarações à SIC, a diretora de comunicação da Last Tour, promotora do festival, garantiu que o festival “é para manter em Lisboa” e que “a tomada de decisão será rápida, porque a avaliação já está a ser feita há algum tempo”.

Ângelo Pereira, vereador da Câmara Municipal de Lisboa, admitiu que o MEO Kalorama poderá sair do Parque da Bela Vista, adiantando que o festival poderá deslocar-se para a zona oriental da cidade: “Poderá ser no Parque da Bela Vista ou noutro espaço da cidade, como por exemplo o Parque Tejo”. Recorde-se que o Parque Tejo se situa junto ao Rio Trancão, um espaço que foi recuperado para receber a missa final da Jornada Mundial da Juventude, presidida pelo Papa Francisco.

Enquanto não sabemos onde será a próxima edição do MEO Kalorama, é altura de balanços daquela que foi a segunda edição do festival.

Depois de alguma falhas identificadas no primeiro ano, a organização fez várias alterações no recinto do festival, nomeadamente no aumento do espaço do recinto e na disposição dos palcos. Depois de, em 2022, a atuação de 2manydjs e Tiga ter sido cancelada por interferir com a atuação de Kraftwerk, o palco secundário do festival – este ano com o patrocínio da San Miguel – mudou de sítio.

Além disso, os concertos entre os dois maiores palcos estavam desfasados nos horários, mas ainda assim há aspetos a melhorar: o novo local do palco San Miguel tinha poucos acessos, pouco espaço para o público e alguns obstáculos para a visibilidade, como a régie demasiado perto do palco.

Das críticas que mais se ouviram durante os três dias do evento destacam-se duas: filas demasiado longas para as casas-de-banho e muito pó no ar. Apesar de, este ano, haver mais casas-de-banho e estas estarem mais bem sinalizadas, não se compreende que não houvesse zonas com urinóis, o que permitiria escoar mais rapidamente muitos dos aflitos e evitar tanto congestionamento.

Quanto ao pó no ar, levantado pelos milhares de pessoas a dançar e a divertir-se e espalhado pelo vento, deve-se mais à incúria e abandono a que o Parque da Bela Vista parece ter sido votado e num parque que se quer verde, no centro da cidade. Espera-se que os responsáveis autárquicos que, por estes dias, andaram a passear credenciais pelo recinto tenham reparado no estado lastimável em que está aquele parque “verde” e decidam alguma coisa, porque não foram certamente três dias de festival que o deixaram assim, ainda para mais num ano em que não houve Rock in Rio.

Mas nem tudo foi mau nesta segunda edição do MEO Kalorama. A organização voltou a escolher grandes nomes para o festival, à semelhança do que já tinha feito o ano passado, e os cabeças de cartaz revelaram-se apostas certeiras.

Blur, Florence and the Machine e Arcade Fire foram as grandes atrações e mobilizaram milhares de pessoas.

Os britânicos foram a grande surpresa do festival, marcados quando já não se esperavam novos nomes, e apresentaram não só temas de “The Ballad of Darren”, novo álbum lançado este verão, e vários êxitos antigos.

Depois de ter sido obrigada a cancelar dois concertos da digressão, devido a uma cirurgia de urgência que lhe salvou a vida, Florence Welch trouxe a máquina bem oleada para encher a Bela Vista, algo a que já estamos mais do que habituados. Sem se cansar de agradecer o carinho do público, foi um concerto especialmente emotivo.

A seguir a Florence and the Machine veio Aphex Twin, naquela que foi uma aposta arriscada da organização e isso ficou patente pela maneira como o recinto rapidamente se esvaziou, à semelhança do que já tinha acontecido no Primavera Sound do Porto, em 2017, quando a atuação do produtor irlandês se seguiu a Metronomy, também no palco principal. Ainda assim, os vários milhares de pessoas que não arredaram pé viram aquilo que foi uma verdadeira descarga de vários géneros de música eletrónica – que vão do house ao experimentalismo, passando pelo ambiente e hard techno – e que não são para todos os gostos.

Também os Arcade Fire mostraram aquilo que todos esperavam: canções dançáveis, acompanhados por milhares de vozes em coro, com a energia a que já nos habituaram.

Uma última palavra para o palco Panorama, um palco dedicado à música eletrónica, sem paragens e uma aposta certeira da organização. Arredado dos restantes palcos, no meio das árvores e envolto em penumbra – um cenário a lembrar o Waking Life, festival no Crato dedicado a este estilo de música –, esteve sempre bem composto, naquela que foi uma aposta certeira da organização.