Não, este artigo não é sobre a alforreca, mas, tal como a mesma, refere-se a uma colónia de seres conectados anatomicamente (ou quase) mas que não são um só: nós, os portugueses.
Vejo cada vez mais Portugal como um barco em que remamos para lados distintos. Individualmente, tentamos remar em frente e somos um povo capaz do melhor. Capazes de remar para o progresso. Para a inovação. Para a prosperidade. Para o futuro. Queremos mais e melhor para nós e para os nossos filhos. Porém, temos connosco quem rema para o lado contrário, quem arrasta a mão na água em proveito próprio e quem lança a âncora ao mar para que não saiamos do mesmo sítio: quem escolhemos para tomar decisões por nós.
Portugal marca passo. A nossa trajectória está errada. Somos um país sem desígnio nacional e ninguém parece importar-se, como caranguejos num balde em que todos se puxam mutuamente para baixo.
O mérito, esse, é actualmente de António Costa, primeiro-ministro que não será relembrado pela convergência com a União Europeia, mas sim como o maniqueísta que conseguiu explorar em proveito próprio a polarização entre esquerda e direita, como se isso fosse relevante para o desenvolvimento do país. Não é, lamento.
A exploração dos medos históricos nacionais na criação de uma narrativa paternalista e dirigista altamente falaciosa funciona mas, no país real, as pessoas não querem saber se é esquerda ou se é direita. As pessoas querem os seus problemas resolvidos e Costa finge que os resolve.
Como disse Milton Friedman, um dos maiores erros da sociedade é julgar os programas e as políticas públicas pelas suas intenções, e não pelos seus resultados. Julguemos então Costa pelos seus resultados.
Assistimos hoje à equiparação cada vez mais preocupante entre o salário mínimo (760€) e o salário médio líquido (1040€). Todos iguais, todos medíocres. Os reformados ficam. Os jovens ambiciosos emigram para países mais livres. A dependência do “Estado-pai” agudiza-se. A dependência da caridade europeia, também.
A crise na habitação foi, em larga medida, criada por governos socialistas com os incentivos à compra de casa, destruição do mercado de arrendamento e ausência de reformas estruturantes. As medidas populistas que se avizinham darão votos no curto prazo, mas serão catastróficas a longo, agudizando o problema.
Na TAP, temos cada vez mais dinheiro público perdido, dinheiro esse que podia ser empregado no tecido empresarial do país real, criando valor. Temos igualmente jogadas de bastidores para salvar a face de ministros na opinião pública, combinação de respostas para audições e ocultação de documentos. O principal aeroporto do país rebenta pelas costuras e é discutido um novo há mais de 50 anos.
Na CP, os passageiros andam na linha em vez de na carruagem e mais de metade do país não tem comboio. Portugal não tem sequer uma ligação ferroviária a Espanha e à Europa.
O SNS não está “em colapso”, pois o SNS já colapsou e vive da abnegação dos seus profissionais. A educação em colapso está. A justiça continua lenta e morosa. Na defesa vamos de Tancos à recusa do material enviado à Ucrânia por estar inapto e à insubordinação de marinheiros.
Na agricultura, Espanha vai na execução do terceiro pacote de fundos; Portugal nem o primeiro aplicou. É um sector ao abandono, tal como os agricultores, que, por não darem votos suficientes, não contam.
Na alimentação, hoje em voga devido aos aumentos galopantes do custo de vida, os culpados são unicamente os retalhistas. António Costa e Fernando Medina demoraram meses a reduzir o IVA ou a tomar uma atitude que seja e só o fizeram por imposição da opinião pública, mostrando total ausência de estratégia ou de ideias para resolver problemas. Costa sacode a água do capote e desresponsabiliza-se, falando inclusive de fixação de preços, uma medida soviética que a História pode explicar apenas conduz a prateleiras vazias.
Falamos de má decisão política, pura incompetência e navegação à vista. O resultado final traduzir-se-á em mais horas de trabalho para um salário eclipsado pela inflação. O pleno emprego de Costa de nada serve se o dinheiro já nada compra. Nestes moldes, pleno emprego é apenas plena escravatura.
O PRR, esse, está já a ser esbanjado num festim de obras públicas para português ver, com irrelevante impacto no desenvolvimento estrutural do país. A obra feita que Costa quer deixar é um país pobre com uma operação cosmética.
Portugal é hoje o nono pior país dos 27 da UE em termos de complexidade fiscal. Sem estabilidade e simplificação fiscais não há investimento e, consequentemente, não haverá desenvolvimento ou redução da pobreza.
Não é possível criar riqueza com estas políticas e Portugal foi uma das economias da OCDE em que as famílias foram mais afectadas, com uma quebra de rendimentos de 4,1% entre o quarto trimestre de 2019 e o terceiro trimestre de 2022.
Ao contrário do que diz o ministro da Economia, António Costa Silva, o nosso país não teve o maior crescimento económico dos últimos 35 anos quando o ponto de partida é ajustado sem o impacto da pandemia. O que teve foi a 11.ª recuperação mais lenta da UE a 27.
Portugal tem hoje um dos piores rácios da UE no balanço trabalho/vida pessoal. Talvez sejamos apenas uma colectividade pacífica de revoltados, como dizia o poeta Miguel Torga.
Costa representa, acima de tudo, a ideia de desresponsabilização e impunidade dos agentes políticos e culpabilização da conjuntura e do povo. A ideia de que o Estado deve ser punitivo em vez de ser um auxílio na resolução dos problemas a médio/longo prazo. Quando o barco afunda a culpa, morrerá a culpa efectivamente solteira?
O rumo que seguimos neste momento é o rumo do suicídio colectivo enquanto nação, pois não podemos repartir o que não criamos, e este governo, encabeçado por este primeiro-ministro, é uma âncora ao mar num barco que se quer progressista e de futuro.
O despotismo actualmente vivido em Portugal resulta da incapacidade da nossa sociedade para influenciar as políticas e acções do Estado. Porém, em democracia, não estamos acabados quando perdemos, mas sim quando desistimos.
É urgente mudar de rumo e escolher o desenvolvimento económico. É urgente cortar o cabo a todos estes políticos-âncora que sustentamos há décadas. Que se afundem e levem com eles ao fundo esta política destrutiva sob pena da fuga de talento, da fuga de capitais e da substituição da caravela portuguesa pela barcaça socialista.