“Este país perdeu o tino, a armar ao fino, a armar ao fino. Este país é um colosso. Está tudo grosso, está tudo grosso… Isto é que vai uma crise…”
César de Oliveira, para o programa “Sabadabadu”
(Faço a minha declaração prévia de interesses: discordo frontalmente da forma como foram feitos os despedimentos na TAP, ao mesmo tempo que o respectivo conselho de administração atribuia prémios milionários a si mesmo, e a alguns funcionários, com base em inconfessáveis critérios. Na lógica de quem permitiu isto, os prejuízos são públicos, mas os prémios não são apenas privados como destinados a uma elite que não conhecemos, mas cujos custos pagamos. Dito isto, há muito mais para se descobrir nesta “nossa” empresa, desde logo quanto à anunciada mudança de sede. Aguardemos, pois, os próximos capítulos, porque a TAP promete ser uma telenovela com muitos capítulos.)
Decorreram mais de 40 anos sobre a emissão do programa televisivo “Sabadabadu”, e parece que pouco mudou. Entre o que já se sabe da TAP (e o que seguramente ainda virá a público, mesmo quanto a outros membros do seu conselho de administração…) e o programa de talentos em que se converteram os castings falhados para o Governo, Portugal assiste, entre sorrisos e o choque, ao espectáculo que os nossos políticos nos prepararam por alturas da transição de ano.
Não obstante o alarde que se criou, o que é certo é que este país – e o seu Governo, em concreto – continuam a caminhar aos tombos, enebriados por um foguetório de luz e estrondo, mais se assemelhando a um qualquer Big Brother em que os concorrentes saem a um ritmo estonteante, menos pela escolha dos espectadores do que pela acção, ainda que tímida, da Justiça.
Enquanto nos distraímos a assistir a recrutamentos bizarros de secretárias de Estado, o que é certo é que o país se encontra mais pobre, com problemas em todos os sectores basilares de um Estado Social de Direito, sejam a Justiça, a Saúde, a cada vez maior carga fiscal ou a inflação. É fácil culpar Pedro Nuno Santos (e até Alexandra Reis, que não estipulou a compensação que lhe foi paga sozinha, nem se nomeou secretária de Estado do Tesouro…) ou a mais fugaz de sempre secretária de Estado da Agricultura, Carla Alves. Contudo, importa que se diga que apenas saíram porque, em dado momento, foram o elo mais fraco, vergados ao peso de uma responsabilização que não é só sua. Quanto aos mais fortes, podem continuar a fazer exactamente o que fizeram, se não por acção, pelo menos por omissão.
Talvez por isso – e contra a corrente maioritária, sei bem – os demitidos merecem, a meu ver, menos atenção e escrutínio do que os que lá ficaram. No final de contas, a estes últimos também se deve o que sucedeu e compete-lhes pugnar para estes alegados “casos e casinhos” deixem sistematicamente de se repetir. De todo o modo, refira-se, a responsabilidade é também de cada um de nós porque, após expressarmos a nossa indignação nas redes sociais e uns sorrisos, entre amigos, rapidamente nos esquecemos. Cada vez que permitimos uma situação de mau uso de dinheiro públicos, o elo mais fraco não são os que são apanhados – somos nós, que o pagamos.