Violência em Jerusalém ameaça estabilidade no Médio Oriente
Os confrontos na Cidade Velha de Jerusalém entre jovens palestinianos e forças israelitas ameaçam incendiar uma situação instável em Israel. O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, anulou a pretensão do príncipe herdeiro saudita de substituir o rei da Jordânia como guardião da Esplanada das Mesquitas, lugar sagrado para os muçulmanos.
Em pleno mês do Ramadão (mês de jejum dos muçulmanos), os confrontos na Esplanada das Mesquitas entre jovens palestinianos e guardas fronteiriços israelitas fizeram mais de uma centena de feridos entre os primeiros e ameaçam provocar nova escalada de violência na área. Daí que o Conselho de Segurança da ONU se tenha reunido de urgência para debater a situação e o chefe da diplomacia dos EUA, Antony Blinken, tenha contactado as partes envolvidas e garantido ao monarca jordano, Abdullah II, o seu papel de guardião dos locais em causa, papel que a Arábia Saudita deseja desempenhar.
A Esplanada das Mesquitas, na Cidade Velha de Jerusalém Oriental, fica a menos de 70 quilómetros de Amã. Mas tudo o que ali acontece, como se do epicentro de um qualquer sismo se tratasse, tem repercussões na capital jordana e em todo o mundo muçulmano, porque se trata de um dos lugares santos do islão e onde ficam as suas duas icónicas mesquitas: Al Aqsa e do Rochedo. Também é um local sagrado para os judeus, conhecido por Monte do Templo.
De acordo com a imprensa israelita, Abdullah II tinha consciência de que a Esplanada das Mesquitas poderia ser um foco de tensão durante o Ramadão. Para o evitar, manteve contactos com o Presidente palestiniano, Mahmud Abbas, e com o ministro da Defesa israelita, Benny Gantz, enquanto responsáveis jordanos se reuniam com o chefe do Shin Bet (serviços secretos israelitas), Ronen Bar. Fonte jordana, citada pelo diário israelita Haaretz, revelou que, após esses contactos, ficou a ideia de que Israel iria abster-se de enviar guardas fronteiriços para a Esplanada das Mesquitas. A Jordânia e a Autoridade Palestiniana tudo fariam para evitar confrontos.
“A entrada das forças israelitas na Esplanada das Mesquitas encurralou o Rei. A crítica interna aumentou e a sensação é de que Israel não está a cumprir o prometido”, avançou a fonte.
Abdullah II, que regressou recentemente da Alemanha, onde foi submetido a uma difícil cirurgia à coluna, está a ser alvo de duras críticas nas redes sociais – “traidor jordano” é o epíteto mais suave de que o monarca é objecto -, o mesmo acontecendo com o Rei de Marrocos, Mohammed VI. Em causa, a circunstância de terem feito a paz com Israel e serem responsáveis, embora de formas diferentes, pela Esplanada das Mesquitas.
Fontes jordanas e israelitas avançam que as críticas aos monarcas têm origem em radicais dos dois países, aos quais se juntam os radicais palestinianos que “provocam” os confrontos. Mas, segundo analistas, se as forças policiais israelitas, assim como os radicais judeus, não entrarem na Esplanada das Mesquitas, não há foco de tensão nem confrontos.
Em resposta aos acontecimentos na Esplanada das Mesquitas foi lançado um rocket a partir da Faixa de Gaza. Israel ripostou com o bombardeamento a “vários alvos, incluindo um local onde o Hamas fabrica armas”, a ocidente de Khan Yunis, sul da Faixa de Gaza, sem fazer vítimas. Fontes militares israelitas confidenciaram ao diário Times of Israel não acreditarem que o ataque vindo de Gaza tivesse sido feito pelo Hamas, mas que este controla o território em causa. Logo, o exército considera-o “responsável pelo que acontece na Faixa de Gaza”.
Entretanto, e a pedido de Jordânia, França, China, Irlanda e Emirados Árabes Unidos (EAU), o Conselho de Segurança da ONU reuniu-se, numa sessão de urgência, para debater a violência na Esplanada das Mesquitas. No final da reunião, um comunicado conjunto dos Estados europeus que integram actualmente o conselho (França, Albânia e Noruega) afirma que “a violência tem de parar imediatamente, evitar mais feridos civis tem de ser uma prioridade”. O texto sublinha ainda que “o estatuto dos lugares santos tem de ser totalmente respeitado”.
Ao mesmo tempo, o secretário de Estado dos EUA contactou todas as partes envolvidas no conflito, a quem pediu contenção. De acordo com o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, Blinken, ao falar com o monarca jordano, “sublinhou a importância de manter o histórico statu quo da Esplanada das Mesquitas e o apreço pelo papel especial do Reino Hachemita como guardião dos Lugares Santos muçulmanos de Jerusalém” – uma declaração que anula as pretensões sauditas de querer ser agora o guardião da Esplanada das Mesquitas, que sempre esteve nas mãos da Jordânia e que, mesmo após a Guerra de 1967, Israel – por decisão do seu então ministro da Defesa Moshe Dayan – optou por manter sob controlo do reino hachemita.