Mais perto das origens do universo

O telescópio espacial James Webb, sucessor do Hubble, produziu as suas primeiras imagens e os resultados deixaram a comunidade científica em êxtase. O cosmos é um extraordinário fogo-de-artifício. A humanidade tem agora uma nova janela sobre as origens do universo e a observação de planetas extra-solares. A máquina consegue ver através de estruturas densas e permitirá recuar ainda mais no tempo, até às proximidades do Big Bang.

A primeira imagem que nos chegou do telescópio espacial James Webb (JWST) estava repleta de luz, com uma amálgama de centenas ou milhares de galáxias aglomeradas num vasto conjunto caótico. Na realidade, esta fotografia de um objecto difuso chamado SMACS 0723 é uma proeza tecnológica. As galáxias mais próximas funcionam como uma lente que permite vislumbrar o campo profundo muito mais distante.

O aglomerado está a 4,5 mil milhões de anos-luz, mas o efeito permite ver muito mais longe no abismo do tempo. Naquela imagem há galáxias até agora invisíveis, a uma distância de 13,1 mil milhões de anos-luz, apenas 700 milhões de anos depois do Big Bang (enfim, apenas 700 milhões – bem-vindos à escala cósmica).

O velhinho telescópio espacial Hubble, em órbita desde 1990 e que revolucionou a astronomia, precisou de semanas para observar a mesma região do espaço, algo que o James Webb fez em apenas um par de horas. A imagem que o Hubble obteve do mesmo objecto não tinha muito detalhe, as luzinhas mais distantes eram quase invisíveis. O novo telescópio funciona em infravermelhos, detecta o calor e consegue ver pontos cem vezes menos brilhantes.

Esta semana foram divulgadas cinco imagens captadas pelo novo telescópio e o entusiasmo dos cientistas foi imediato. Todos sabem que isto foi apenas a primeira etapa de um catálogo de descobertas. A ciência poderá alargar a sua compreensão do espaço e do tempo, como se tivesse encontrado a chave de uma vasta biblioteca até agora inacessível. Com estas primeiras imagens, o James Webb iluminou uma enorme porção desconhecida da noite escura e, sabendo que quanto mais distante, mais se recua no tempo, esta será uma viagem de descobertas também no passado. A humanidade nunca esteve tão perto de vislumbrar as origens do universo.

Planetas distantes

Uma das primeiras observações do JWST foi, na realidade, um exemplo de espectroscopia, a análise detalhada da composição química de um planeta, o Wasp-96b, a 1150 anos-luz de distância do nosso sistema solar. Parece incrível, mas o espectrómetro detectou vapor de água naquele gigante gasoso superquente. O planeta é inabitável, pois encontra-se muito próximo da sua estrela, que orbita em pouco mais de três dias, mas a presença de água é claríssima. As implicações são evidentes: esta máquina tem a capacidade de detectar sinais de vida em planetas extra-solares.

A imagem do Quinteto de Stephan, na constelação Pegasus, também surpreendeu. É visível com novos detalhes o fogo-de-artifício da galáxia mais próxima e aquilo que é, na realidade, um quarteto de galáxias a uma distância muito maior de 290 milhões de anos-luz. Estas quatro estão ligadas umas às outras numa espécie de dança cósmica que lança um rasto daquilo que parece ser poeira, mas é, afinal, a luz de vastos rios de estrelas. O brinde para os cientistas foi o campo profundo com milhares de luzes até agora invisíveis, abismo povoado por galáxias, cada pontinho contendo dezenas de milhares de milhões de estrelas.

As cinco primeiras imagens divulgadas esta terça-feira pela NASA incluíam dois objectos bastante conhecidos dos astrónomos, agora visíveis com um detalhe de cortar a respiração. A Nebulosa do Anel Sul é uma nuvem de gás em expansão produzida por uma estrela a morrer. O corpo moribundo ficou mais visível. As estruturas vistas pelo Webb possibilitam o estudo da extinção estelar.

Os dois telescópios espaciais (Hubble e JWST) podem trabalhar em conjunto e estão a ser preparados vários gigantes terrestres para multiplicar as observações. O JWST será a estrela das ferramentas da astronomia, mais útil em grandes distâncias e para observar o interior de estruturas densas, como é o caso da Nebulosa Carina, NGC 3324, da qual existe agora uma imagem espantosa. A nebulosa está a 7500 anos-luz da Terra e tem uma dimensão de 230 anos-luz de diâmetro. É uma estrutura complexa com enormes pilares de gás esculpidos pela radiação e ventos solares de estrelas em formação.

A nova imagem é lindíssima. Através da nuvem opaca, ficou visível o infantário de estrelas em todos os seus detalhes. O que era escuro tornou-se transparente e vibrante.

Leia o artigo na íntegra na edição do NOVO que está esta sexta-feira, dia 15 de Julho, nas bancas.