Num cenário político acirrado, o Partido Conservador, sem maioria no parlamento, buscava aprovar medidas controversas. Aumentar impostos era a sua prioridade, mas enfrentava a oposição ferrenha do Partido Revolucionário e do Partido Democrata. Do outro lado, o Partido Revolucionário defendia a nacionalização de todas as entidades de saúde, proposta rejeitada pelos outros dois partidos.
Para driblar a falta de maioria, os Conservadores recorreram a uma estratégia de troca de favores políticos. Em negociações secretas, ofereceram apoio à nacionalização da saúde em troca do voto favorável ao aumento de impostos por parte do Partido Revolucionário.
O acordo, apesar de garantir a aprovação das duas medidas, vai ter um alto custo para a sociedade. A nacionalização da saúde, vai gerar ineficiências e longas filas de espera. Já o aumento de impostos, além de onerar a população, vai desacelerar a economia.
As perdas, tanto em termos financeiros quanto de qualidade de vida, serão significativas e evidenciam os riscos de se utilizar essa estratégia. Tanto uma medida como outra, são rejeitadas pela maioria da população – por isso mesmo, os acordos de governação levam a que a maioria da sociedade venha a sair prejudicada.
Este tipo de acordos são conhecidos como Logrolling.
O Logrolling, apesar de ser uma estratégia política para alcançar acordos e compromissos, tem os seus inconvenientes. Como por exemplo:
- Aprovação de medidas que trazem prejuízo para as pessoas, sendo unicamente baseados na troca de favores políticos em vez de serem orientados para a busca da melhor solução para o interesse público.
- Favorecimento de interesses de certos grupos em detrimento do bem-estar geral da sociedade, ignorando as necessidades da população como um todo.
- Uma vez que as negociações geralmente ocorrem nos bastidores e fora do escrutínio público pode levar a uma falta de transparência e prestação de contas, minando a confiança dos cidadãos no sistema político.
- Perpetuação de problemas existentes em vez de resolvê-los. Os políticos podem trocar apoios em questões controversas sem abordar efetivamente as causas subjacentes desses problemas.
- Ineficiência na alocação de recursos, já que as decisões podem ser baseadas em considerações políticas em vez de critérios económicos ou de eficácia e eficiência.
Portugal tem graves problemas na habitação, na saúde, na educação, na carga fiscal… E qual foi a primeira ocupação dos deputados eleitos pelos portugueses para resolverem estes problemas? Estiveram entretidos mais de um dia a negociar a atribuição de um cargo. UM DIA de trabalho para atribuir UM CARGO!
E no final, os mesmos deputados que não votaram a favor de um candidato, após terem conseguido um acordo, já mudaram de posição. O candidato não mudou, as suas competências não mudaram, as consequências de ele vir a ocupar o cargo continuaram as mesmas – porque é que no espaço de umas horas dezenas de deputados mudaram o seu voto? Porque claramente as prioridades desses deputados não são os cidadãos mas sim a sua própria agenda.
Não é isto que os portugueses querem. Não é isto que os portugueses precisam. Mas habituem-se, vão ser quatro anos.
Ou talvez não…
Mário Queirós (Dirigente da Iniciativa Liberal, Professor do Ensino Superior)
Sérgio Gomes (Dirigente da Iniciativa Liberal, Mestre em Engenharia Urbana)