Azagaia vai ser homenageado em Lisboa, pela segunda vez, através da celebração da sua arte, na Casa Independente, disse à Lusa uma das curadoras do evento, a jornalista Magda Burity.

De acordo com a antropóloga e jornalista, “a importância deste evento é exatamente perpetuar o legado de Azagaia e dar a conhecer aos portugueses, e a todas as pessoas do mundo em português, uma vez que o Azagaia cantava em português, o trabalho que ele fez do ponto de vista decolonial”.

Segundo a jornalista, o trabalho de Azagaia, conhecido como o Rapper do Povo, “continua contemporâneo, é atual e é hip-hop”. Foi através desse género musical e da palavra que “conseguiu mudar mentalidades, tanto em Moçambique, como em todo o mundo”.

“É coincidente que esta segunda edição [do tributo] seja nos 50 anos do 25 de abril e nos 49 anos das independências, então é muito interessante nós estarmos a organizar este evento e também os nossos debates e o tema Azagaia: A palavra como património transversal ao pensamento decolonial“, disse à Lusa.

Para Magda Burity, as mensagens que o Rapper do Povo deixou cruzam-se com a realidade portuguesa, em que os movimentos antirracistas lutam por uma maior representatividade de negros.

Segundo Valete, também curador do evento, a ideia é manter vivo o legado de Azagaia, “um rapper muito raro, que é provavelmente das figuras políticas e artísticas mais importantes da história de Moçambique e da história de África”.

A equipa que está a preparar esta segunda edição do tributo ao rapper é “multidisciplinar”, com nomes importantes da indústria, tais como a própria Magda Burity, que foi manager do artista; Flávio Almada, músico e ativista; ou Inês Valdez, que foi manager dos Buraka Som Sistema e é proprietária da Casa Independente.

O tributo – que tem a curadoria de Valete, Inês Valdez, Milton Gulli, Magda Burity e Lídia Amões – vai contar com as atuações de Coca o FSM & Mano António, Huca, Michel William, Indi Mateta, Libra, Matti Jasse, Muleca XIII, Nayr Faquira, Remna, Sam the Kid, Sir Scratch, LBC Soldjah, Schmith e Yeri e Yenin.

“Este ano temos um maior leque de mulheres a tocar, até porque o Azagaia era uma pessoa que apoiava as mulheres”, declarou Magda Burity.

Todavia, segundo a jornalista e curadora do evento, este será, possivelmente, o último tributo ao artista pois a sua família “não compreende o conceito” do evento e exige que as receitas do mesmo lhe sejam entregues.

As receitas do primeiro tributo, realizado o ano passado, foram dadas à família do rapper. No entanto, este ano, o objetivo é entregar o valor a uma organização não-governamental moçambicana, a Plataforma Makobo, que tem como objetivo apoiar crianças e pessoas mais desfavorecidas.

“Estamos a receber uma grande pressão da família para lhes entregar esse valor, mas um tributo tem a responsabilidade sobre um legado do património intelectual e não sobre a família” do artista, lamentou.

Azagaia, nome artístico de Edson da Luz, morreu a 9 de março de 2023, vítima de doença, depois de uma carreira de quase 20 anos dedicada à música rap.

Também conhecido como rapper do povo, ficou célebre pela crítica aberta à governação de Moçambique, de tal forma que, em 2008, na sequência de três dias de violentas manifestações que paralisaram Maputo, foi chamado pela Procuradoria-Geral da República, após lançar o tema Povo no Poder, uma música gravada poucas horas após os episódios, alertando para a possibilidade de uma paralisação geral face à subida de preços de produtos básicos no país.

O evento vai acontecer sexta-feira, dia 28 de junho, das 17h00 às 3h00, na Casa Independente, em Lisboa.