Após uma grande vitória da extrema-direita francesa nas eleições europeias, o presidente Emmanuel Macron dissolveu a câmara baixa do parlamento, com o atual governo em regime de gestão até que as eleições legislativas antecipadas sejam realizadas, em 30 de junho e 7 de julho.

“Vemos uma incerteza significativa em torno da comparação entre os resultados das eleições europeias e os das próximas eleições legislativas. A principal razão é que o sistema de votação difere, com o sistema de duas voltas usado em eleições legislativas a constituir, muitas vezes, uma desvantagem para a extrema-direita (ou para a extrema-esquerda)”, refere um research da Goldman Sachs.

O banco norte-americano mostra-se preocupado com a “considerável incerteza” que está associada às eleições antecipadas decididas pelo presidente de França. “Existe a possibilidade de as próximas eleições resultarem num statu quo em que os aliados de Macron e o centro-direita se somam numa maioria absoluta. Em segundo lugar, a extrema-direita poderia liderar as sondagens mas, ainda assim, ficar aquém de uma maioria absoluta. As duas opções resultantes seriam entre um governo de minoria de extrema-direita ou um governo de coligação central mais amplo que inclua o centro-esquerda.”

Para a Goldman Sachs, há ainda outro perigo: “A extrema-direita poderia garantir uma maioria absoluta e receber um mandato inequívoco para governar. As políticas económicas e fiscais estão sob a alçada do governo e serão diretamente afetadas pelas próximas eleições.” “É mais difícil avaliar o potencial das implicações económicas de um governo de extrema-direita, em particular devido à ausência de uma plataforma política.”

“Vemos duas formas pelas quais um governo de extrema-direita poderia interferir na política económica. Em primeiro lugar, algumas das propostas políticas da extrema-direita relativamente ao mercado único e as restrições à imigração seriam, provavelmente, consideradas conflituantes com a legislação europeia e poderiam criar fricções no diálogo com Bruxelas. Em segundo lugar, grandes passos institucionais a nível europeu – como a emissão de dívida comum e a adesão da Ucrânia à União Europeia –, provavelmente, iriam exigir aprovação parlamentar, que poderá ser prejudicada por um bloqueio de uma maioria da extrema-direita.”

Sendo certo que “as questões económicas e fiscais em França estão sob a alçada do governo, tal como é responsável perante a câmara baixa do parlamento”, é possível que venha a haver algum desequilíbrio. “A nossa base para as perspetivas orçamentais em França inclui uma melhoria gradual no equilíbrio fiscal, com alguma derrapagem em relação à orientação do governo, resultando num rácio crescente da dívida pública.”

Para o banco, um impasse governamental ou um novo governo desalinhado com o presidente resultariam em “ajustamentos fiscais mais lentos. Não esperaríamos que fossem aprovadas medidas económicas ou fiscais importantes, o que provavelmente limitaria o risco de défices maiores, mas também abrandaria o ritmo de consolidação” da dívida pública. “A ausência de outras medidas estruturais e reformas, provavelmente, pesaria sobre o crescimento, o que, juntamente com uma consolidação fiscal mais lenta, distorceria os riscos no sentido de novos aumentos no rácio da dívida pública.”