A corrida à liderança do Conselho Europeu – uma espécie de “terminação” face ao “grande prémio” que é a posse da liderança da Comissão Europeia – está a entrar numa fase decisiva, uma vez concluída a eleição do novo elenco do Parlamento Europeu. A vontade de António Costa de suceder ao belga Charles Michel foi, primeiramente, um segredo mal guardado e é agora uma certeza. Mas, se o atual governo da Aliança Democrática (AD) já prestou “vassalagem” ao antigo primeiro-ministro – sendo altamente improvável que, se sozinho, o CDS alinhasse no apoio –, juntando-se assim ao PS, os apoios internacionais parecem minguar. Até porque a concorrência é feroz, o que retira a António Costa vantagens competitivas.
Não é uma regra, mas é uma evidência da prática acumulada: a presidência do Conselho Europeu vai sempre parar às mãos de um antigo chefe de Estado ou de governo. E depende sempre de quem assume a chefia da Comissão Europeia – sendo normalmente disputada entre os liberais (Michel é um) e os socialistas do PSE ou os conservadores do PPE, dependendo de quem ficou com a Comissão.
Costa cumpre o primeiro requisito, mas ainda falta o segundo: Ursula von der Leyen, uma conservadora do PPE, é a candidata mais bem posicionada para suceder a si própria, mas o assunto ainda não está fechado. Quando estiver, o PSE tem direito sobre os liberais a escolher o próximo presidente do Conselho, mas uma análise da concorrência coloca sérias dúvidas sobre se António Costa tem real potencialidade para substituir Charles Michel.
A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, e o ex-primeiro-ministro português António Costa são os nomes mais cotados. A comunicação social europeia diz que “Costa começa ligeiramente atrás, depois de uma investigação repentina a um escândalo de corrupção o ter levado à sua demissão, no ano passado”.
A primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, e o primeiro-ministro da Bélgica, Alexander De Croo, aguardam para ver. Este último está agora livre: demitiu-se do cargo depois de averbar um mau resultado nas eleições europeias e o seu grau de disponibilidade aumentou. Talvez o facto de um belga querer substituir outro belga não seja uma desvantagem: a suceder, isso iria despertar a “inveja” de outros países.
Outro problema para António Costa é a derrota de Emmanuel Macron. O péssimo resultado do seu partido face aos extremistas de Marine Le Pen pode levar o presidente francês a virar-se para a Europa e a tentar rodear-se de apoios externos. Pouco tendo a dizer sobre a Comissão Europeia, Macron pode ser tentado a preferir, no Conselho, outro liberal em vez de um socialista — um problema em aberto.
De qualquer modo, os resultados aceitáveis do PPE retiram vários nomes fortes da corrida: Andrej Plenkovic, primeiro-ministro da Croácia desde 2016; o primeiro-ministro da Grécia, Kyriakos Mitsotakis; e o ex-primeiro-ministro finlandês Alex Stubb.
Dizem algumas fontes que um dos maiores concorrentes de Costa pode ser Mario Draghi – o italiano que tem provas dadas no Banco Central Europeu e como primeiro-ministro de Itália. É uma personalidade fortemente consensual e a atual primeira-ministra do país, Giorgia Meloni, de extrema-direita, pode ser tentada a fazer o mesmo que Montenegro: apoiar alguém que não é da sua família política, mas é da mesma nacionalidade.
Resta ainda a maior incógnita: o espanhol Pedro Sánchez. Também socialista, considerado candidato à presidência do Conselho Europeu quando esteve prestes a renunciar ao cargo há algumas semanas, o seu nome ainda circula em Bruxelas, segundo reportagem da Euronews. Sánchez voltou a perder as eleições para o seu mais direto adversário, o Partido Popular, e viu reforçada a votação nos extremistas do Vox. Paralelamente, a pressão das investigações em torno da sua mulher, Begoña Gómez, são mais um motivo de preocupação – que vem juntar-se a tantos outros que enformam uma profunda crise política em torno dos socialistas espanhóis.
É verdade que a Espanha costuma apoiar Portugal no quadro da União Europeia e que Pedro Sánchez teve recentemente palavras de grande apreço por António Costa – frente a Luís Montenegro, numa deselegância inesperada. Mas esse apoio só existirá na medida em que Sánchez não esteja na corrida.
Tudo em aberto, portanto, para António Costa, que já disse: “A presidente da Comissão Europeia será do PPE e o Conselho Europeu dos socialistas”, e o “Parlamento Europeu há-de rodar entre os socialistas e os liberais” ou “entre o PPE e os liberais”.
Para cargos europeus “há sempre uma extensa lista de ex-primeiros-ministros excelentes. Há uma pequena diferença: é que os que estão em exercício são os que estão à volta da mesa [para escolher os nomes], e isso faz tudo uma grande diferença”, afirmou, na CMTV, onde é agora comentador, evitando responder se está disponível para um cargo europeu.
E recordou: “Há sempre muitas hipóteses. Há cinco anos, quando entrámos para o Conselho Europeu, a senhora Von der Leyen não era um nome que fosse referido para nenhum dos lugares.” “Por isso, vamos ver”, limitou-se a dizer. Pois vamos.