África tem, reconhecidamente, um grande potencial para o turismo que, nalguns casos, já foi concretizado, e, noutros, ainda espera por “melhores dias”.

E, seguramente, Cabo Verde, um pequeno país insular, com as suas dez ilhas e uma localização geoestratégica entre vários continentes, com um clima ameno e uma estabilidade internacionalmente reconhecida, é um desses casos.
Para Cabo Verde, consolidar o sector do turismo (com ênfase em novos produtos de alto valor, diversificando as ofertas), dinamizar a economia do turismo (em todas as suas ilhas), promover destinos internos e diversificar as fontes de turistas (para garantir mais resiliência ao sector) deverá ser o propósito.

Criar facilidades para mobilizar mais investimentos externos e ou acelerar a sua implementação (dos que já foram assinados ou que estejam em fase avançada de negociação) deverá ser a prioridade no sector para se augurar um impulso imediato ao crescimento económico e à criação de mais empregos.

Assim, o país deve trabalhar para melhorar a governação e a gestão do sector, colocando ênfase no marketing e na promoção, expandindo a formação e, ao mesmo tempo, construindo a consciência pública para qualificar os diferentes destinos nacionais.

Na linha da estratégia de “Um País, Dez Destinos”, Cabo Verde deve trabalhar para o desenvolvimento do turismo na ótica da diversificação da oferta, por forma a potenciar as vantagens comparativas de cada uma das ilhas e regiões, enquanto destino turístico de referência, envolvendo para tal todos os stakeholders. 

O quadro institucional do turismo nos nossos países pode (e deve) ser reanalisado para se aferir da pertinência do reagrupamento de diversas instituições existentes, ajustando as suas estruturas de modo a garantir a existência de uma instituição forte e capaz de assumir a gestão do sector, realizar a promoção, atrair e apoiar os investidores, facilitar as ligações entre o turismo e os outros sectores da economia, permitir uma maior participação nacional e servir como um catalisador para atrair capital e para desenvolver as Zonas de Desenvolvimento Turístico Integrado (ZDTI), através de parcerias público-privadas. 

Melhor dizendo, há que vencer o desafio de criar um novo turismo! 

O turismo é o núcleo da economia de vários países, como de Cabo Verde. Neste sentido, e apesar de ter gerado um boom, o rápido crescimento no sector do turismo também criou um risco sistémico, dada, por um lado, a especialização do país no turismo, e, por outro lado, atendendo aos seus altos níveis de concentração. 

Em 2019, por exemplo, 76% dos turistas que visitaram Cabo Verde eram provenientes de seis países europeus: Reino Unido, Alemanha, Países Baixos, Portugal, França e Itália. A esmagadora maioria dos turistas que chegavam a Cabo Verde foram trazidos por dois operadores. Os visitantes vinham (e vêm) essencialmente pelo sol e pela praia, e o turismo concentra-se essencialmente em duas ilhas.

É evidente, portanto, que, nesse quadro e com esse contexto, o turismo enfrenta pelo menos quatro desafios, nomeadamente o da competitividade, o da sustentabilidade, o da concentração e o da necessidade de maximização do seu impacto sobre a riqueza e bem-estar dos cabo-verdianos. 

É preciso, portanto, vencer o desafio da competitividade, ganhar o desafio da sustentabilidade, combater a concentração e garantir a maximização do seu impacto líquido.

O baixo valor acrescentado no sector do turismo em Cabo Verde caracteriza-se pela limitação dos ganhos para os nacionais. Isso também é um desafio, visto que os benefícios para o país ainda são limitados, considerando o seu real potencial. A cadeia de abastecimento é integrada e os consumos provêm, em grande parte, do exterior. 

Diante dessa realidade, a aposta deve ser transformar o sector do turismo. O plano deve ser continuar a fazer crescer o sector, mas com ênfase no crescimento do turismo de elevado padrão e com maior valor acrescentado pelas empresas nacionais. 

E isso exigirá diversificação a muitos níveis: na oferta de produtos, na origem dos turistas e no destino dos turistas em Cabo Verde. 

A ambição, no caso de Cabo Verde, em particular, deve ser poder, finalmente, concretizar o slogan “Dez Ilhas, dez destinos”!

Advogada e consultora jurídica

Artigo publicado na edição do NOVO de 10 de fevereiro