Contra a maioria da opinião publicada (lá como cá), após uma errática presidência, sucessivos casos judiciais e políticos, Donald Trump voltou a vencer a eleição presidencial americana, juntando o “seu” Partido Republicano uma ampla maioria no Senado e na Câmara dos Representantes.
Mas será que na ex-colónia europeia, principal responsável pelo fim do colonialismo um pouco por todo o mundo, emancipada da Grã-Bretanha em pleno séc. XVIII, com um sólido “edifício” jurídico assente (ao contrário de outros) no profundo respeito pelos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, no mérito individual, e, sobretudo, no Estado de Direito democrático, estão todos loucos?
Mais do que criticar o povo americano que, pasme-se, é quem vota e decide as eleições no seu país, a intelligentsia ocidental deveria, sim, ter a humildade de tentar perceber os erros cometidos e o porquê desta clara vitória.
Lá (como cá) a esquerda substituiu a luta de classes pelas guerras culturais, a moderação da presidência Biden – um bom exemplo de sensatez e do cumprimento do sonho americano – pelo radicalismo de nicho, julgando que, num país com uma sólida tradição de democracia direta, uma vice-presidente (pouco mais que) inexistente ao longo de quatro anos poderia ser eleita pelos americanos sem se haver sequer submetido a primárias no seu próprio Partido.
Ao invés, para além de todas as excentricidades, excessos verbais e judiciais, Trump falou ao coração do americano comum.
Centrando a sua mensagem política (é para isso que servem as campanhas, não é verdade?!) em duas simples ideias que tocaram no americano médio: elevado custo de vida motivado pelo descontrolo da inflação e sentimento de insegurança (injustamente, nós sabemos) associado à imigração galopante (paradoxo num país de imigrantes).
Se, após as duas vitórias de Trump nos Estados Unidos, a Europa ainda não aprendeu, valerá a pena aproveitar aquela que poderá ser a última oportunidade para daqui retirar uma grande lição, mas, fundamentalmente, para daqui alicerçar alguns pontos positivos.
Ao longo da sua (ainda curta) história, o padrão maioritário americano foi quase sempre o do isolacionismo, salvo raras e honrosas exceções nos últimos cem anos. Não deixando de ser verdade, por outro lado, que, sempre que os Estados Unidos seguiram este caminho isolado, os custos, para si, foram a médio prazo superiores (como se viu com a eclosão da II Grande Guerra).
As novas gerações de europeus, contudo, habituaram-se nestes últimos 75 anos ao escudo protetor (económico e militar) dos Estados Unidos.
Por mais avisos que tenham sido dados recentemente, os líderes europeus parecem não ter compreendido as sonoras mensagens.
A Europa precisa de se recentrar, para se recentrar no Mundo. De investir na sua (na nossa) defesa, na sua autossuficiência económica e energética, de se desburocratizar e racionalizar os seus recursos, porque ontem já era tarde.